Jornalista, jornal, TV e a greve que você não vê
Por Waldson de Almeida Dias
Por Waldson de Almeida Dias
“Juro exercer a função de jornalista assumindo o compromisso com a verdade e a informação… assim eu juro!” (In Juramento do Jornalista)
Está difícil ser qualquer coisa e qualquer um nos dias de hoje neste país chamado Brasil! Neste dia 14 de junho de 2019 eu vi duas greves tão diferentes na cidade de Foz do Iguaçu. A primeira e única foi maravilhosa. Milhares de pessoas saíram à rua e fizeram uma linda caminhada pelas principais ruas da cidade reivindicando uma “educação acima de tudo e uma universidade para todos”; “verbas para pesquisa”; “não à reforma da Previdência”; “em defesa da previdência pública”; em prol do conhecimento, pois ele destrói mitos!
E caminhando lado a lado, professores, estudantes, trabalhadores do campo, trabalhadores em geral. Todos juntos com palavras de ordem que arrepiava qualquer um que estivesse participando e/ou observando tal a magnitude da energia dissipada. Simplesmente lindo! Ao longo da caminhada, pacífica, organizada e energeticamente magnífica, eu observei vários jornalistas, repórteres, cinegrafistas, fotógrafos, profissionais da imprensa que acompanharam a caminhada.
Mas essa caminhada a TV não mostrou, nem vi os repórteres e jornalistas falando de como foi emocionante mais de sete mil pessoas (segundo o site H2FOZ) inundarem as principais ruas da cidade e darem um show de democracia exigindo a permanência de direitos já conquistados, entre outras solicitações. Ao contrário disso, a “TV” usou e abusou de imagens de violência, já após o término da caminhada.
Para quem não viu nem participou do movimento de greve e luta, o que se viu pela “televisão” foram cenas de bombas de gás sendo lançadas em manifestantes. O jornalista âncora da CNN em Espanhol, Andrés Oppenheimer, escreveu o livro: Sálvese Quien Pueda!, no qual ele diz que 47% dos empregos vão desaparecer na próxima década e postos de trabalho e determinados profissionais podem ser substituídos por robôs, computadores inteligentes e inteligências artificiais.
Entres essas profissões está, sim, a dos jornalistas. Os medíocres, os medrosos, os sem visão de mundo, os lineares, esses serão sim substituídos pelas máquinas, e a meu ver já vão tarde! Segundo Oppenheimer: “…o jornalista terá que ter um aprendizado constante”. Isso eu sempre soube. E Oppenheimer ainda acrescenta na página 125: “Os futuros jornalistas terão que ser flexíveis e aprender a trabalhar com vários meios e terem conhecimento básicos de análises de dados, estatística e matemática”.
Bem, deixe-me ver se entendi: mais de sete mil pessoas na caminhada, mais de sete mil pessoas entoando palavras de ordem em prol de um futuro melhor para todos, e a “imprensa” fixa-se em um professor detido pela polícia e uma professora que leva um tiro de bala de borracha, e esses dois são expostos na “telinha” a cada 15 minutos durante uma tarde/noite de maneira tendenciosa.
Nesse caso a análise de dados, estatística e matemática desapareceram totalmente do perfil dos que cobriam a referida pauta. Mas o que mais me chamou a atenção foi a figura dos âncoras que, algemados aos seus tabletes, seguiam um texto fabricado, direcionado e extremamente pobre, no qual a imparcialidade simplesmente inexistia.
Onde estavam os repórteres, jornalistas, que, segundo Oppenheimer, deveriam fazer “a interpretação correta da situação e a pergunta que fosse ao mesmo tempo crucial e inesperada” para ambas as partes do conflito, e não apenas tecerem conjecturas sobre somente um lado. Oppenheimer acrescenta que “a análise de dados é algo que deverá ser ensinada nas faculdades de jornalismo”.
Eu ouso acrescentar que se faz necessário ensinar a ler, não somente bons livros e grandes autores, mas ler situações, pessoas, contextos e, ao mesmo tempo, em segundos, interpretar, sem medo de levar choque da produção e dos donos do poder.
O texto que realmente é o mais importante, nesse caso, era terem dito: “Foi lindo”!
A agência de notícias Associated Press criou um guia para as redações na era das máquinas inteligentes, e esse guia conclui que o impacto da inteligência artificial no jornalismo será enorme, pois a tecnologia se modifica, cresce, e o jornalismo não!
Uma das profissões mais maravilhosas do mundo no futuro talvez seja totalmente automatizada, e oxalá a inteligência artificial seja isenta, coisa difícil por estas bandas… Mas eu ainda acredito nas novas gerações que vêm por aí, não é mesmo, Tom e Mary Seven???
Waldson de Almeida Dias é servidor público.