Por Denise Paro

O que é para ser uma sugestão de pauta ou um texto com informações complementares para elaborar outro tornou-se publicação de destaque em jornais e sites. O chamado release ou press release, texto feito por assessores de imprensa, passou a ser amplamente adotado em tempos de jornalismo em crise.

Com um reduzido número de profissionais nas redações, principalmente em cidades do interior, os releases ganharam espaço nobre nas páginas dos impressos e principalmente em sites que não têm produção jornalística própria. Seja de órgãos públicos ou privados, a verdade é que o release passou a ser a salvação de muitos veículos de comunicação.

A partir dessa realidade, podemos levantar pelo menos duas questões. A primeira delas é que, nos últimos anos, o trabalho de assessor de imprensa ganhou espaço no mercado e houve uma profissionalização nessa atividade. Boa parte dos releases sai das assessorias pronta para ser publicada. Palmas para os assessores que prestam um bom serviço.

Ter o release publicado é bom para o órgão público, empresa ou para quem é assessorado, porém do ponto de vista jornalístico, que tem por premissa uma função social de fiscalização e vigilância social, tal iniciativa, em demasia, não é bem vista.

Primeiro porque o release mostra apenas um lado, o da empresa, órgão público ou assessorado. E o jornalismo tem por princípio elementar sempre ouvir dois lados e fiscalizar o poder.

Outro aspecto é a comercialização. Boa parte dos releases anuncia eventos ou até produtos de empresas que, por vezes, têm mais caráter de matéria comercial. Nesse sentido podemos até considerar o jornalismo de serviço, mas em certa medida o uso excessivo de release extrapola muito tal conceito.

Do ponto de vista das empresas, há também uma perda. Ter o release publicado é mais cômodo para o veículo de comunicação porque não é necessário deslocar a equipe para fazer uma matéria mais profunda e documentada. Em certos casos, receber a equipe in loco para ampliar o conteúdo do release seria até melhor para as assessorias cujo objetivo é pautar as redações, seja de jornais, sites, TVs e rádios, ou mesmo chamar atenção de grandes veículos de comunicação.

Outra questão passível de análise é o quanto a tecnologia contribuiu para a circulação de informações. A emissão de informações por parte das assessorias ficou mais ágil a partir da popularização do celular e da forma de ser fazer vídeos. Hoje, muitos órgãos públicos, incluindo policiais, conseguem atender à demanda da imprensa sem até mesmo ter jornalistas atuando na função de assessores.

Conteúdo patrocinado

Outra prática que tem crescido no campo jornalístico é o chamado conteúdo patrocinado, quando a empresa paga para o veículo inserir uma matéria. Do ponto de vista do meio de comunicação, é necessário honestidade, o que exige a identificação clara do que é um conteúdo pago.

O conteúdo patrocinado está tornando-se uma fonte de receita para alguns veículos, principalmente digitais. Porém é preciso não confundir o leitor a ponto de ele ter a impressão de que o material foi produzido pelo próprio canal que está divulgando.

Diante do quadro atual, jornalistas precisam ponderar sobre a importância dos textos autorais que têm mais chances de ganhar relevância, principalmente na web. O que todo mundo reproduz pode ser lido em qualquer meio. Textos exclusivos com boas histórias hoje fazem a diferença em uma comunicação que tem muito do “mais do mesmo”. 

As novas práticas jornalísticas exigem reflexão.

Denise Paro é jornalista em Foz do Iguaçu.